Primeiramente, professores brasileiros em parceria com a universidade Harper Adams University realizaram uma pesquisa sobre a percepção sensorial e adesão dos consumidores pela proteína de insetos em alimentos.
A entomofagia é o uso de insetos na alimentação humana. Há um bom tempo vem sendo discutida a inserção da proteína de insetos nos alimentos. Pois pode ser uma solução para o problema de sistema sustentável para a produção de proteínas e uma valiosa fonte no futuro. Entretanto, ainda há uma grande barreira a ser quebrada, que é a aceitação da população brasileira pela entomofagia e o consumo de alimentos que têm proteínas de insetos.
Antes de tudo, imaginem: você vai como voluntário para participar de uma pesquisa e lhe oferecem bolachas no estilo cookies achocolatados para você comer. Nesse sentido, quando você coloca na boca, ele derrete mas ao mesmo tempo tem a crocância do cookie, tendo um gosto semelhante ao brownie, mas amanteigado e torrado, além de ter o cheiro igualzinho ao cookie. Deu água na boca só de imaginar né? Mas se te dissessem antes que ele era composto de larva da farinha, você iria querer sequer experimentar? Tenho quase certeza que não, né?
Pensando assim, foi feito uma pesquisa no Brasil com 24 pessoas, em que foi dado a eles cookies feitos com a larva de farinha. Os comentários dos participantes foi exatamente a descrição do cookie acima.
Análise sensorial do cookie com proteína de inseto
Assim, ao usar a análise sensorial, foi possível revelar até que ponto alguns atributos sensoriais atuam como determinante na intenção dos indivíduos de escolher e consumir um alimento novo. Dessa maneira, quando a presença de insetos está disfarçada em um novo produto alimentar, há uma maior chance de que o produto seja aceito. Isso porque os consumidores não tiveram experiências anteriores com aquele novo produto. Dessa forma, podemos interpretar que se adicionasse a proteína de insetos em um alimento que está no mercado, provavelmente teria rejeição dos compradores.
Ademais, os comentários que mais chamaram atenção dos pesquisadores foi o fato de que os membros do painel gostaram do sabor e da crocância do alimento. Além do mais, quando foi questionado se eles comprariam os cookies, o maior motivador dos que responderam que sim foi o gosto do alimento.
Observa-se que quando foi relacionado o cookie normal e/ou equivalente no mercado com o cookie feito de proteínas de insetos, ajudou mais com a aceitação. Então, quando você compara um alimento com o outro, pode ajudar a diminuir a neofobia alimentar.
É importante ressaltar que antes de eles utilizarem as larvas da farinha, foi colhido amostras para a análise microbiológica de Staphylococcus, Coliformes e Escherichia coli, onde foram obtidos resultados negativos para cada uma delas. O mesmo ocorreria caso esse produto fosse vendido para o público, ele deveria passar por análises laboratoriais, assim como vários alimentos passam.
Como inserir no mercado?
Apesar de o Brasil ainda não ter uma regulação específica para criação de insetos voltados à alimentação humana, diversos outros países já possuem regulamentação para consumo humano. Infelizmente, só será possível ter o uso de insetos nos alimentos como fonte de proteína depois que a ANVISA regulamentar, o que hoje em dia é proibido disponibilizar para venda.
Atualmente, há 135 espécies de insetos comestíveis no Brasil, como larvas de besouros, lagartas de borboletas, formigas e gafanhotos.
Contudo, vale lembrar que na indústria, o corante carmim de cochonilha é vindo do inseto Dactylopius coccus, que é criado em cativeiro para produzir pigmentação para diversos produtos como iogurtes, sorvetes, cremes e até cosméticos. Além disso, também é encontrado diversos restaurantes que exploram o uso da formiga-saúva na culinária. Geralmente, ela é servida com farofa, caldo de tucupi e lagostim na região amazônica.
Siga alguns exemplos de restaurantes paulistanos que usam a formiga-saúva nos pratos:
Amazo
O restaurante especializado em comida peruana, o Amazo, possui dois pratos que usam a formiga-saúva: o cebiche AMA.ZO, que possui peixe marinado em molho de pimenta amarela e o drinque amazônico que é feito de pisto infusionado com formigas, cachaça, xarope de amêndoas, limão, angostura, folhas e flores de jambu.
Banzeiro
O restaurante Banzeiro reproduz a cozinha amazônica. Ele tem a opção de entrada a espuma de mandioquinha com a formiga-saúva.
E aí, nos conta: vocês teriam coragem de comer algum desses pratos?
REFERÊNCIAS:
- CHEUNG Thelma, AGUIAR Luis, SPERS Eduardo, LIMA Lílian. The Brazilian’s sensorial perceptions for novel food – cookies with insect protein. Journal of Insects as Food and Feed 7(3):1-14. DOI:10.3920/JIFF2020.0080. Acessado: 18/05/2023.
- “Entomofagia: Insetos na Alimentação Humana | PET EngAli.” PET EngAli, https://pet.agro.ufg.br/n/127197-entomofagia-insetos-na-alimentacao-humana. Acessado: 18/05/23.